terça-feira, 7 de junho de 2016

Nota de Repúdio

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE 
UNIDADE ACADÊMICA DE PSICOLOGIA 

N O T A D E R E P Ú D I O 


A Unidade Acadêmica de Psicologia da Universidade Federal de Campina Grande torna público o repúdio da comunidade universitária frente à violência que vem sofrendo a formanda do curso de Psicologia Ana Beatriz, desde que sua foto durante o ato público pelo fim da cultura do estupro realizado esta semana na cidade de Campina Grande, foi publicada sem autorização no perfil da página Safadão Opressor, no Facebook. 

A foto de Ana Beatriz mostra escrita no corpo a frase Eu não mereço ser estuprada, e foi reproduzida na referida página seguida da frase Nem vai!, e de uma infinidade de outras postagens semelhantes de homens e mulheres seguidores da página, dizendo absurdos como por exemplo, que ela deveria agradecer se fosse estuprada ou que nenhum estuprador teria a coragem de fazê-lo. Ainda que a reação imediata de centenas de mulheres e homens tenha sinalizado indignação com a expressão brutal de violência contra a mulher e de apologia ao estupro, através de inúmeros comentários na postagem, muitos outros homens e mulheres em apoio ao perfil expressaram seu ódio às feministas e o desrespeito às mulheres e sua autonomia sobre seus corpos. 

Dito isto, é de causar surpresa a tamanha ignorância que ainda paira em várias camadas da população brasileira que desconhecem por inteiro o verdadeiro sentido das lutas feministas, entre elas, a igualdade não apenas formal, mas substantiva entre os gêneros, o que implica viver e conviver com dignidade e respeito, que como sabemos não pode ser conquistada da noite para o dia, mas através de mobilizações coletivas intensas como a que Ana Beatriz participara. Estas são de extrema importância, pois atuam no confronto e na modificação de um imaginário patriarcal e misógino que infelizmente, compõe a maneira de ser de ampla parcela da sociedade brasileira, que encontra na internet um espaço de manifestação anônima que fornece proteção para a prática de crimes e a disseminação do ódio. 

As mulheres, todas elas, tem direito à experiência da vida livre e digna, fora da sombra obscurantista de uma cultura que as desumaniza e as trata como pessoas cujas maneiras de ser, se vestir ou falar justificariam violações de direitos. É preciso que a sociedade, como força coletiva, se insurja contra essa violência, responsabilizando os seus autores e praticantes. Nenhuma mulher merece ser estuprada. O estupro é inadmissível e precisa ser enfrentado de todas as formas possíveis. Além disso, precisamos questionar a ditadura da beleza imposta aos corpos das mulheres. Uma forma de controle que posiciona como belo certos tipos de corpos e estéticas e estimula a ojeriza ao que não se adequa a esse modelo. Precisamos questionar e romper com normas de gênero que impõem às mulheres formas de ser, de sentir e de se vestir, por meio de uma falsa admiração a corpos esbeltos e disciplinados. 

O que esse ato inadmissível que aqui denunciamos aponta é que a luta feminista é ainda mais necessária nos dias de hoje. Ana Beatriz e os movimentos feminista e de mulheres sabem que não devem esmorecer, mas se fortalecer, na medida em que tal página não faz mais do que confirmar que a cultura do estupro e o controle sobre os corpos das mulheres não apenas é real como também virtual, atuando através de uma violência simbólica sem precedentes. Continuemos todas e todos lutando para o fim de práticas e discursos incabíveis que – é de se espantar – continuam acontecendo em pleno século XXI. 

UNIDADE ACADÊMICA DE PSICOLOGIA


Fonte: www.ufcg.edu.br

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