CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
UNIDADE ACADÊMICA DE PSICOLOGIA
N O T A D E R E P Ú D I O
A Unidade Acadêmica de Psicologia da Universidade Federal de Campina Grande torna
público o repúdio da comunidade universitária frente à violência que vem sofrendo a formanda
do curso de Psicologia Ana Beatriz, desde que sua foto durante o ato público pelo fim da
cultura do estupro realizado esta semana na cidade de Campina Grande, foi publicada sem
autorização no perfil da página Safadão Opressor, no Facebook.
A foto de Ana Beatriz mostra escrita no corpo a frase Eu não mereço ser estuprada, e foi
reproduzida na referida página seguida da frase Nem vai!, e de uma infinidade de outras
postagens semelhantes de homens e mulheres seguidores da página, dizendo absurdos como
por exemplo, que ela deveria agradecer se fosse estuprada ou que nenhum estuprador teria a
coragem de fazê-lo.
Ainda que a reação imediata de centenas de mulheres e homens tenha sinalizado indignação
com a expressão brutal de violência contra a mulher e de apologia ao estupro, através
de inúmeros comentários na postagem, muitos outros homens e mulheres em apoio ao perfil
expressaram seu ódio às feministas e o desrespeito às mulheres e sua autonomia sobre seus
corpos.
Dito isto, é de causar surpresa a tamanha ignorância que ainda paira em várias camadas da
população brasileira que desconhecem por inteiro o verdadeiro sentido das lutas feministas,
entre elas, a igualdade não apenas formal, mas substantiva entre os gêneros, o que implica
viver e conviver com dignidade e respeito, que como sabemos não pode ser conquistada da
noite para o dia, mas através de mobilizações coletivas intensas como a que Ana Beatriz
participara. Estas são de extrema importância, pois atuam no confronto e na modificação de
um imaginário patriarcal e misógino que infelizmente, compõe a maneira de ser de ampla
parcela da sociedade brasileira, que encontra na internet um espaço de manifestação anônima
que fornece proteção para a prática de crimes e a disseminação do ódio.
As mulheres, todas elas, tem direito à experiência da vida livre e digna, fora da sombra
obscurantista de uma cultura que as desumaniza e as trata como pessoas cujas maneiras de
ser, se vestir ou falar justificariam violações de direitos. É preciso que a sociedade, como força
coletiva, se insurja contra essa violência, responsabilizando os seus autores e
praticantes. Nenhuma mulher merece ser estuprada. O estupro é inadmissível e precisa ser
enfrentado de todas as formas possíveis.
Além disso, precisamos questionar a ditadura da beleza imposta aos corpos das mulheres.
Uma forma de controle que posiciona como belo certos tipos de corpos e estéticas e estimula a
ojeriza ao que não se adequa a esse modelo. Precisamos questionar e romper com normas de
gênero que impõem às mulheres formas de ser, de sentir e de se vestir, por meio de uma falsa
admiração a corpos esbeltos e disciplinados.
O que esse ato inadmissível que aqui denunciamos aponta é que a luta feminista é ainda mais
necessária nos dias de hoje. Ana Beatriz e os movimentos feminista e de mulheres sabem que
não devem esmorecer, mas se fortalecer, na medida em que tal página não faz mais do que
confirmar que a cultura do estupro e o controle sobre os corpos das mulheres não apenas é
real como também virtual, atuando através de uma violência simbólica sem precedentes.
Continuemos todas e todos lutando para o fim de práticas e discursos incabíveis que – é de se
espantar – continuam acontecendo em pleno século XXI.
UNIDADE ACADÊMICA DE PSICOLOGIA
Fonte: www.ufcg.edu.br
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