sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Reflexão aos pais que conduzem filhos em motos.

A morte pelas mãos do pai







A mãe conta que o pequeno Adjailson, ainda com 10 anos, não queria ir com o pai naquele dia. Pediu para ficar em casa, com a mãe. Estava com sono. O pai, mais uma vez bêbado, iria de motocicleta de Pedra para Arcoverde, no Sertão do Moxotó pernambucano. Costumava beber e pilotar. Carro, moto, o que fosse. Não teve jeito. Autoritário, acostumado a impor suas vontades nem que fosse na agressão física, o agricultor obrigou o filho a seguir com ele na garupa. Adjailson não tinha idade para estar lá. Estava com medo. Sabia que o pai bebera. Além de bêbado, o agricultor Arnóbio Dourado nunca teve habilitação. Mas pouco importava. Era o dia deles. Bêbado, invadiu a pista contrária na BR-424, eixo rodoviário de tráfego pesado. Um caminhão os destruiu. O filho morreu pelas mãos do pai. Pela imprudência do pai. E Adjailson não queria ir.





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O corpo do agricultor se misturou às ferragens da moto. Lata e carne viraram uma coisa só. Pareciam um maracujá, contam. A violência contra Adjailson foi menos detalhada. Forma encontrada por parentes, amigos e vizinhos de amenizar a dor da mãe, Fabiana Dourado, 34 anos. Disseram que foi lançado longe e morrido de imediato ao quebrar o pescoço. Que ficou esbagaçado, assim como o pai. Outros, que caiu no mato e morreu pedindo socorro, perdendo sangue. São muitas histórias... Todas permeiam a cabeça de Fabiana até hoje. Os 34 anos de idade não lhe cabem. Parece ter mais. O olhar é triste, resignado pela dor. Dor composta de raiva, remorso, culpa e saudade. Muita saudade.
O culpado pela morte do meu filho é o pai. Tenho raiva dele...

 Fabiana Dourado
O culpado pela morte do meu filho é o pai, desabafa Fabiana
– Penso que poderia ter proibido Adjailson de ir, mas sei que não tinha força. Não tinha como proibir. Falar a gente fala, mas obedecer é que é o problema. Quando o pai mandava, quem era besta de desobedecer, de passar por cima da ordem dele? Era muito violento. Batia em mim, por isso me separei dele” – conta a resignada mãe.
No caminho de Pedra para Arcoverde, o local do acidente, conhecido como Curva do S, chama atenção pela quantidade de cruzes. É temido na região. No Km 6, pai e filho estão juntos, cada um com seu cruzeiro erguido pela família – reverência comum pelo interior. A cem metros, outras oito cruzes expõem o perigo do lugar. Quatro das vítimas morreram num dia e as outra quatro no dia seguinte. Mas Arnóbio nem viu as cruzes. Não percebeu o alerta. Estava bêbado, sem habilitação e com uma criança na garupa.
– O culpado pela morte do meu filho é o pai. Tenho raiva dele... não quis nem olhar dentro do caixão. Estão enterrados juntos, eu deixei, mas tenho raiva” – desabafa Fabiana. Mais uma vez, a convivência do homem do interior com a moto pesa. Dirigir sem habilitação e capacete é via de regra. Bêbado é comum. Sem idade certa para pilotar ou estar na garupa de uma moto, rotina.
– Ele era pai. Eu acabava confiando. Sempre andei com ele bêbado. Minha mãe vivia me alertando, dizia que um dia ia acontecer um acidente. Principalmente às quartas-feiras, dia da feira da cidade (Pedra), ele enchia o tanque. Às vezes cochilava dirigindo. Já aconteceu de chegar em casa e não conseguir sair do carro, um Opala velho. Ficava dormindo no volante mesmo. Com a moto era um pouco melhor, mas sempre dirigiu bêbado. Por isso o culpo pela morte do meu filho” – relembra.
Fabiana e Arnóbio eram primos. Estavam juntos desde que ela tinha 14 anos, ele 17. Mas quatro meses antes do acidente se separaram. Fabiana relembra que o agricultor prometia levar um dos filhos junto no dia em que morresse. Não seria o mais velho, de 16 anos. Não se davam. Seria a menina, de 11, o mais novo, de 6, ou Adjailson. Arnóbio cumpriu o prometido. Levou o mais apegado de todos. E Adjailson não queria ir.

Fonte: http://especiais.jconline.ne10.uol.com.br/filhos-da-dor/a-morte-pelas-maos-do-pai.php

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